No mês em que se discutem as várias
vertentes da Saúde Mental e seus efeitos na população brasileira, levando-se em
conta a Pandemia do novo coronavírus,
surgem diversos problemas e urgências, seja por medo da doença, pela
necessidade de isolamento social ou pelas novas formas de flexibilização, que
não podem passar despercebidas.
O professor
Lúcio Lage, Doutorando em Saúde Mental pelo IPUB da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, pesquisador
do Laboratório DELETE- Detox e Uso Consciente de Tecnologias (IPUB/UFRJ) e
escritor da obra ‘A vida após o novo coronavírus: Novos Comportamentos’ em
entrevista, explica sobre as urgências da saúde mental no país em meio à crise
da pandemia e direciona as medidas que devem ser tomadas para dar assistência
às pessoas, além de como a Covid-19 tem impactado a saúde mental da população
brasileira.
1- Assim como o vírus pode agir de
diferentes formas nas pessoas que se infectam, as respostas emocionais também
podem ser muito distintas, dependendo de diversos fatores. Como o senhor
explica este fato?
Os povos que já sofreram com guerras, endemias, epidemias e pandemias ecatástrofes climáticas, entendem melhor os riscos e tem mais disciplina para entender as restrições, adaptando-se melhor a limitações que estamos vivendo.
2- Quais os problemas e urgências de
saúde mental que podem aparecer nesse contexto de pandemia, isolamento social,
flexibilização e expectativas de vacinas?
Prof. Lúcio Lage- As tensões geradas por uma pandemia
para as pessoas não acostumadas às restrições atuais alteram substancialmente o
modus operandi das pessoas. Riscos de
doença e morte, impossibilidade de ir às ruas, flexibilização e expectativas de
proteção e cura ativam as possibilidades do surgimento de transtornos como
ansiedade, depressão, pós-traumático, e alimentares. Pessoas já diagnosticadas
com estes transtornos ou ainda com sintomas leves, tem mais dificuldades de
conviver sob a pressão de uma dinâmica de exceção, ampliando as estatísticas de
casos destes transtornos.
3-Existe um volume de pesquisas
sendo publicadas sobre o efeito da pandemia na saúde mental da população. Tem
se listado principalmente os transtornos de ansiedade, insônia, irritabilidade,
transtornos traumáticos e pós-traumáticos e até casos mais graves como
tentativas de suicídio e surtos psicóticos. O que o senhor tem a dizer sobre
estas constatações?
Prof.
Lúcio Lage-
Como mencionado na resposta anterior a mudança abrupta e limitante da vida das
pessoas, por muito tempo, pode sim fazer eclodir todos estes sintomas. Muitas
pessoas os tem controlados sob supervisão médica e/ou psicológica, muitas vezes
com solução medicamentosa, além de outras que não tem conhecimento de sua
existência até que sua rotina seja impactada e que seu cérebro consiga entender
tudo que está acontecendo aqui fora. Os achados de pesquisas têm crescido e
apontando para a correlação entre o cenário restritivo atual e o surgimento ou
agravamento desta sintomatologia.
4-Quais os impactos da pandemia
principalmente para os profissionais da saúde e pessoas com transtornos
mentais?
Prof. Lúcio Lage- Os impactos são tão extensos quanto
variáveis, dependendo de inúmeros fatores que relatamos no nosso livro “A vida
após o novo coronavírus: novos comportamentos” lançados em 30/6/20 pela www.barralivros.com
Para
profissionais de saúde os impactos foram (e continuam sendo) dramáticos
variando da exposição até a morte destes combatentes do vírus. Para as pessoas
com transtornos mentais confirmados ou próximo disto, dependendo da natureza e
grau do sintoma, o cenário de distanciamento em relação aos seus terapêutas,
além de eventuais dificuldades de acesso ao tratamento online, solidão, excesso
de uso digital podem contribuir para cenários mais severos.
5-Como manter a saúde mental nesse
contexto?A OMS publicou recomendações à população, e uma delas foi a afirmação
de que assistir, ler ou ouvir em excesso notícias sobre a Covid-19 trazem
ansiedade ou estresse. Portanto, todos devem buscar apenas informações
verdadeiramente úteis, que ajudem a proteger a si mesmos e as pessoas que amam?
Prof. Lúcio Lage- Não é uma tarefa fácil e cabe ao
órgão maior de Saúde no mundo informar e orientar sobre os assuntos do seu
segmento principalmente as medias protetivas. É muito difícil (e ilegal) hoje
em dia impedir o acesso à informação das pessoas em um mundo cada vez mais
digital. O maior problema das informações desencontradas, principalmente no
início da pandemia foi a politização do tema que gerou dados e informações de
acordo com o interesse de grupos de poder.
6-Que
desafios essa pandemia impõe ao Sistema Único de Saúde (SUS), atualmente e nos
próximos anos, em relação à saúde mental?
Prof. Lúcio Lage-
Um grande desafio foi entender que com todo o foco na COVID 19 o
complexo SUS priorizou o combate ao vírus e vários outros tratamentos foram
interrompidos ou minimizados. Nenhum sistema de saúde no mundo estava preparado
para a magnitude desta crise de saúde e para um país continental como o Brasil
o SUS tem que ser ampliado e otimizado para atender no dia a dia e ter
contingência mínima para operar em regimes de exceção como o da COVID – 19.
7- Quais desafios precisam ser
enfrentados no pós-pandemia, uma vez que teremos que criar novas rotinas e
novas formas de sociabilidade?
Prof.
Lúcio Lage- Os desafios pós-pandemia são muitos e em diversos graus. Vão
desde comportamentos individuais de higiene e contato até importantes questões
globais como a necessidade de discussão de uma Agenda de Saúde Mundial sobre a
gestão dos alimentos de origem animal, por questões obvias. Falamos disto
também no nosso livro mencionado em 4.
8-Não será possível voltar a
condições que experimentávamos anteriormente. A comunicação através da internet
e das redes sociais veio para ficar?
Prof.
Lúcio Lage- Voltaremos sim, um dia, às práticas de antes
da pandemia, claro que com pequenos ajustes. Sobre a comunicação pela Internet
e Redes Sociais, sua expansão já vinha acontecendo pela transformação digital.
Assim não é questão de vir para ficar porque ela já estava aí.
9-O acompanhamento de casos
clínicos, nos quais a presença do profissional pode ser substituída pelo
contato remoto, deve ser algo que pode permanecer e ser útil para a área de
saúde.
Prof.
Lúcio Lage- É uma alternativa como tem sido Home Office e
EaDque cresceram com o isolamento social. O atendimento remoto decerto
continuará a ser usado, o que não quer dizer que será abolido o atendimento
presencial. Dependendo da patologia, das facilidades/dificuldades de acesso
virtual, ou dos resultados, será mais ou menos utilizada. Só não pode ser
desconsiderada em um país de dimensões continentais com o Brasil.
Serviços:
Professor Lúcio Lage
Título: A vida
após o novo coronavírus: novos comportamentos
Editora:
Barra Livros – 135 páginas
.Mini CV - Lúcio
Lage Gonçalves
Engenheiro, pós-graduação em Administração Pública (EBAP/FGV), em Tecnologia Educacional (U.Católica de Petrópolis), em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial (PUC - Paraná) , Mestrado em Administração (UNIEURO), Doutorando em Saúde Mental (IPUB/UFRJ), linha de pesquisa Dependência Digital. Pesquisador do Laboratório Delete - Uso Consciente de Tecnologi@s (IPUB/UFRJ) . Professor de cursos de MBA de 2000 a 2010. Orientador acadêmico. Escritor dos livros "Gestão de Mudanças na teoria e na prática" (2014), "Mudanças Organizacionais no Brasil" (2015), "Dependência Digital" (2017) e "Convivendo bem com a Dependência Digital" (2018). Co-organizador e co-autor do livro “Novos Humanos 2030: Como será a humanidade em 2030 convivendo com as tecnologias digitais?”(2019). Mais recente lançamento: A vida após o novo coronavírus: Novos Comportamentos (30/junho/2020)
Contato: DMC21 COMUNICAÇÃO E MARKETING
(21) 32584917/ (21)981379583