Dos pacientes que passam pela cirurgia de redução de estômago, 87% têm reganho de peso dois anos depois da intervenção. 'Choques metabólicos' e/ou acompanhamento psicológico são necessários para esses casos.
Um dos principais medos de quem sempre lutou contra a balança é voltar a ganhar os quilos que foram perdidos depois de uma rotina de dietas e exercícios físicos, às vezes cumpridos a duras penas. No caso dos pacientes bariátricos, como são chamados os obesos que passaram pela cirurgia de redução de estômago, pesquisas apontam que 87% deles têm reganho de peso dois anos depois da intervenção.
Quem fornece o dado é o médico Danilo Mentrop, pós-graduado em endocrinologia pelo IPEMED (Instituto de Pesquisa e Ensino Médio), que atende em seu consultório no Rio de Janeiro muitos desses exemplos de reganho de peso.
No caso desses grupos, o médico, que possui curso de atualização em endocrinologia pela Universidade de Harvard, em Massachusetts, EUA, diz que um dos responsáveis pela recuperação da gordura perdida é a compulsão alimentar, uma patologia básica associada à obesidade. “Quando o paciente faz a cirurgia, há uma limitação temporária de ingestão de alimento, mas muitos começam a sabotar o tratamento porque o transtorno compulsivo não foi tratado”, explica Mentrop.
“Alguns engordam de novo porque voltam a comer sorvete, chocolate e outras coisas do tipo, mas tenho visto com mais frequência o peso do uso de bebida alcoólica neste processo. Muitas vezes, a bebida tem mais calorias que um prato de refeição: uma dose de uísque tem 88 calorias e a cerveja tem 52calorias por 200ml”.
O endocrinologista alerta que a compulsão alimentar é um problema que requer atenção de um psicólogo, por isso o acompanhamento com um profissional da área acontece no pré e no pós-operatório. “A ideia é neutralizar o ato voraz de se alimentar com rapidez, mas depois da cirurgia também se recomenda atividade física, que melhora o sono e promove a readaptação de músculos e ossos, além de alimentação de três em três horas e reposição de vitaminas”.
Danilo Mentrop aponta ainda que um efeito comum nos bariátricos que têm reganho de peso é a sensação de frustração e fracasso. “Nesses casos é fortalecer o acompanhamento psicológico ou até iniciar tratamento com antidepressivos”.
Metabolismo influi
O especialista aponta que outro aspecto do reganho de peso tem a ver com o próprio metabolismo da pessoa. “No passado recente, jogavam a culpa da obesidade na preguiça e na indisciplina das pessoas, mas com a descoberta de hormônios como a leptina, que controla a saciedade, viu-se que a manutenção do peso não depende só da vontade do paciente. Existe todo um mecanismo interno que controla a fome, além de alterações genéticas e da flora intestinal”, justifica.
O médico acrescenta que a medicina atual tem catalogados 19 hormônios envolvidos no processo de reganho de peso. “Depois de um tempo, o organismo ‘trava’ a perda mesmo com uma rotina de alimentação saudável e exercícios quatro vezes por semana”, diz. Isso vale tanto no emagrecimento clínico (com remédios e dietas), quanto no cirúrgico. Em quem precisa perder até 10% do peso esse efeito é menos problemático, bastando se manter dentro da dieta.
Nos casos em que a perda foi maior, a estratégia para driblar a tendência do organismo de estancar a perda de gordura, o que segundo Danilo, é uma reavaliação para promover “choques metabólicos”. “Nesse ponto, é necessário modificar o estímulo, seja mudando a dieta completamente ou buscando alternativas de modalidades esportivas ou remédios”.
“Obesidade é doença crônica, ou seja, não pode parar o tratamento”, explica o profissional. O parâmetro mais comum para se identificar a obesidade é o IMC (Índice de Massa Corporal), que leva em conta peso e altura – acima de 30 o paciente já é considerado obeso e tem indicação de tratamento com remédios para driblar a tendência do metabolismo em recompensar a privação do alimento.
Dr. Danilo Mentrop – Endocrinologia / Metabologia do Esporte
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